quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Entendendo Melhor o Parto Humanizado


Imagem daqui


















Parto Humanizado. O que você imagina quando ouve esta expressão? Quando pergunto isso
para as pessoas, as respostas que recebo geralmente são:
“Parto Humanizado é aquele parto na água, né?”
“É o parto feito sem médico!”
“É parto em casa?”

Não, Parto Humanizado não é nada disso… Quando falamos em Parto Humanizado não
estamos falando de um tipo de parto, nem de um local de parto, nem de um atendimento sem
médico. Estamos falando de uma maneira diferente de atender ao parto.

O Parto Humanizado se sustenta em três pilares básicos:
  1. o atendimento baseado em evidências científicas atuais;
  2. a atuação em equipe multidisciplinar;
  3. o protagonismo da paciente.

















 A Medicina Baseada em Evidências científicas atuais (MBE) é o primeiro e mais
 importante aspecto. Infelizmente, no Brasil, o atendimento padrão ao parto normal é
desatualizado. Algumas rotinas hospitalares que ainda são muito comuns, como colocar a
 mulher em posição deitada durante todo o trabalho de parto, impedí-la de comer e beber,
 empurrar sua barriga para o bebê nascer logo e cortar sua vagina (episiotomia) já estão
comprovadamente obsoletas. Já existem evidências científicas sólidas mais do que suficientes 
para que não se faça nada disso. Porém, ainda é muito comum, e em muitos hospitais tanto do
SUS quanto de convênio gestantes estão sendo submetidas a esses procedimentos neste exato
 momento. A atualização dos profissionais e o abandono das práticas comprovadamente ineficazes 
e/ou danosasé um ponto essencial do Parto Humanizado. Outro aspecto essencial é reduzir as
 intervenções ao mínimo possível e assegurar-se de que todas as intervenções têm uma indicação
 médica real. Atualmente ainda é frequente o uso de intervenções, como por exemplo a aplicação
 de ocitocina sintética para acelerar o parto, mesmo em mulheres que estão evoluindo bem, o que
aumenta os riscos de complicações para a mulher e para o feto. Minimizar as intervenções 
aumenta a segurança do processo.


O Parto Humanizado faz parte de uma Política Nacional de Humanização, que propõe “ofertar
atendimento de qualidade articulando os avanços tecnológicos com acolhimento, com melhoria
 dos ambientes de cuidado e das condições de trabalho dos profissionais”. Para isso, a política
propõe uma mudança radical no funcionamento dos sistemas de saúde, e na própria
relação médico-paciente. O médico deixa de ser o principal protagonista do atendimento, e a
 equipe multidisciplinar ganha mais espaço. Cada profissional adquire mais autonomia e participa
ativamente do diagnóstico e tratamento. A valorização dos profissionais de saúde não
 médicos é um item essencial da Política Nacional de Humanização, e no Parto Humanizado,
 isso significa a valorização das Enfermeiras Obstetras, Obstetrizes e Parteiras. Essas três categorias
 profissionais são consideradas pelo Ministério da Saúde como aptas a atender ao parto normal de
 risco habitual (baixo risco), dentro e fora do ambiente hospitalar. Não é necessário que um médico
 obstetra atenda aos partos de baixo risco, onde não há nenhuma complicação que necessite de
 suas habilidades e técnicas específicas. No âmbito da equipe multidisciplinar, os papéis são claros,
 e o médico é necessário apenas em casos de gestações de alto risco, complicações, emergências e
 urgências. 


O paciente também tem voz ativa e deve ser incluído em todas as decisões a respeito de
 seu tratamento. Ele pode, inclusive, optar por não seguir tratamento algum. Dentro da Política
 Nacional de Humanização, o protagonismo do paciente é um item essencial e deve-se levar em 
consideração seus desejos, suas crenças e sua história pessoal na hora de propor um tratamento.
 No Parto Humanizado não é diferente: a gestante e seu companheiro devem ser informados e
 consultados a respeito de todos os procedimentos a serem feitos com a parturiente e com o bebê, e
 podem negar o que considerarem desnecessário, com base nas informações trazidas pela equipe
e em suas crenças pessoais. É aí que entra a escolha do local de parto, do tipo de parto, se vai ser na
 água ou não, se o casal vai contratar uma acompanhante treinada de parto (Doula) para dar um 
auxílio extra ou não: é a liberdade de escolha da paciente, que deve ser respeitada. Mas mesmo que 
ela opte por um atendimento no hospital, com médico e sem banheira, ela ainda pode - e deve - ter
 um atendimento humanizado!


A Política Nacional de Humanização existe desde 2004, e suas diretrizes deveriam se aplicar
 a todas as áreas da saúde e a todos os profissionais. Em suma: todo o atendimento à saúde
 deveria ser humanizado o que, infelizmente, ainda está longe de ser o caso...

O atendimento não humanizado ao parto se chama Violência Obstétrica. A Violência Obstétrica é
 definida como o uso de procedimentos desatualizados ou sem indicação médica real, desrespeito
 aos direitos e desejos da parturiente, tratamento desrespeitoso e abuso de autoridade. Segundo
uma pesquisa publicada em 2010, pela Fundação Perseu Abramouma em cada 4 mulheres
 reconhece ter sido vítima de Violência Obstétrica durante o seu parto. Estes números
 podem ser ainda maiores, considerando que uma parte dessa violência em muitos casos não é
 percebida como violência por desinformação da paciente: alguns casais só descobrem anos depois
 do ocorrido, e após muitas pesquisas, que foram vítimas de Violência Obstétrica.

Imagem daqui

Portanto, quando falamos em Parto Humanizado, estamos falando de um tipo de 
atendimento ao parto que deveria ser o padrão no Brasil. Um atendimento com base
em evidências científicas atuais e com respeito à família que está nascendo ali. Não é um modismo,
 não é uma ideia espalhafatosa, não tem nada a ver com desrespeito à classe médica nem com
 uma vontade maluca de voltar ao passado e parir como um neandertal. Pelo contrário!
 Humanizar o parto é fazer uso de todos os recursos que a medicina moderna oferece, no momento
 adequado. É utilizar o profissional certo para cada caso. É respeitar o casal e deixá-lo decidir o que
 deseja para este momento. E é resgatar também o que havia de melhor no atendimento tradicional:
 o cuidado, o vínculo, a confiança no corpo e no processo natural de parir.


Imagens: Google Images

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